segunda-feira, 22 de março de 2010

OS OUTROS


No blog Rapadura Açucarada, que é o meu favorito de toda a net, o Eudes, dono do mesmo, publicou o comentário de um certo Nehemias que eu achei interessante e resolvi também publicar aqui. Achei legal, pois apesar dele falar algumas coisinhas de uma forma meio radical demais, a maior parte do que está lá é muito do que tenho pensado nos últimos dias. E acho que minha priminha Renata vai reconhecer nossas conversas no discurso do rapaz.rsrsrs.
Lai-se vai,negada:

A REVOLUÇÃO QUEM FAZ É CADA UM
Um texto de Nehemias, O Farrista





"O Fantástico era fantástico quando eu tinha 11 anos de idade. Aí eu cresci e a idade mental também. O Fantástico é o ápice do superficial. Nada pode ser mais raso do que isso. Querem fazer um programa que atinge todo mundo. É a mesma coisa que uma pessoa, sem personalidade, que tenta agradar a todo mundo e nunca dá uma opinião incisiva."
Eu digo: concordo plenamente com o companheiro Nehemias. Só acho que ás vezes é interessante a gente notar que existe o botão "desliga" na tv.
"Quem acredita na Globo está em maus lençóis. No Brasil, é o veículo de comunicação encarregado de cometer o crime de criar um mundo de ilusão, em que só pessoas de cabelo liso e com a roupa que aparece nas novelas, podem ser felizes. Conheço gente que segue tudo que mostra nas novelas, desde linguagem, até penteados, nome do cachorro, gírias, tudo. E é muito triste."
Eu digo: triste verdade, brother..."Big Brother eu nem sei o que dizer. Observar o comportamento das pessoas até que não é de todo ruim. Agora, precisa ver que tipo de gente colocam lá. Por que os que apareceram em todas edições, pareciam muito com o Fantástico. Ou seja, fantasticamente superficiais. E se isso acontece, é porque, infelizmente, a audiência é superficial. E dá pra constatar isso porque a intenção dos produtores de qualquer programa é fazer com que a audiência se identifique com os participantes/personagens. Então, se você se identificou com Bam Bam, Domini, Dourado ou alguma devassa que está ou esteve lá, o problema é bem pior do que imagina."
Eu digo: é verdade, meu velho. Só acho meio perigoso quando a gente tenta classificar "o tipo de gente" ao qual as pessoas pertencem.
"A educação nunca vai poder competir com o entretenimento. Não adianta sonhar que todo mundo vai querer ver TV Escola, Globo Ecologia o dia todo ou Canal Futura. Isso não vai acontecer. Mas a Globo faz questão de apodrecer ainda mais o cérebro das pessoas. Pessoas essas que não tem tempo pra nada por trabalharem muito, o dia todo. E aí, quando chegam em casa precisam se contentar com um mundo de ilusão, um padrão de comportamento inexistente, um modo de vida que não existe e que nunca vai existir, porque só existe atrás das câmeras. Esse padrão de comportamento inexistente é alvo de muita gente. E é ridículo. O "ter" passa por cima do "ser" e ninguém diz nada. A mentalidade ocidental ajuda muito a estragar também. Mas os grandes como a Globo não esboçam qualquer tentativa de dizer algo que transforme mesmo a vida de alguém. Não existe revolução nenhuma. O que existe são pessoas, domingo a tarde, assistindo o Faustão entrevistar personagens das novelas deles mesmos, em uma propaganda institucional que vai além da cara-de-pau de qualquer mau caráter.
Pregam a cultura do medo em seus jornais, para que todo mundo fique acuado e sem ânimo para fazer alguma revolução. Afinal de contas, não vale a pena o esforço porque "a violência está muito grande", "a economia está em crise", "a Palestina e Israel estão em guerra", "várias pessoas morreram em acidente de carro nesse fim de semana", "tiroteiro na favela entre policiais e traficantes", "cuidado com o que você come na rua", "cuidado com a Gripe Suína", "cuidado com Gripe Aviária", "cuidado com os tubarões", "cuidado com os PittBulls", "terremoto mata 100 mil", "tsunami mata 260 mil", "sequestro", "assassinato", "cuidado com o novo golpe", "cuidado", "cuidado". E com todo esse cuidado, todo mundo já passou do cuidado para a paranóia coletiva. Acabou. As manchetes dos jornais são sempre essas. Deixe de assistir durante uma semana e comece a se desprender do medo que quer te dominar e impedir que um dia você fale o que pensa sobre tudo.
Em um mundo individualista, agora a revolução e a transformação também é individual. Pelo menos, o início."
Eu digo: nisso, meu querido Nehemias foi soberbo.
Acabei há poucos dias de ler o livro 1984, de George Orwell, que tem tudo a ver com isso. Passei pra Renata e ela pegou a idéia e acho legal a discussão.


quinta-feira, 18 de março de 2010

CAMPANHA PRÓ-SOFIA COPPOLA


Na noite do Oscar eu estava teclando com minha querida amiga Dili, uma das pessoas com quem eu mais gosto de conversar, principalmente sobre cinema. Porém, durante a conversa, tivemos um pequeno desentendimento. Ela revelou que não gosta do filme Encontros e Desencontros, da diretora Sofia Coppola! se você conhece o filme e conhece a diretora sabe que é impossível uma pessoa tão sensível e de gosto tão refinado como a Dili não gostar desse filme.

Ela ainda teve a coragem de frescar com o nariz da Sofia, o que foi pra mim a gota d'água. Então comecei uma campanha, na verdade um protesto. Greve de fome até a Dili rever o filme, começar a amá-lo e, de quebra, pedir desculpas por ter falado do nariz mais charmoso de Hollywood. Ela achava que não, mas estou levando a sério meu protesto.
Eis uma foto da sofia e seu belo nariz...


E eis a minha última foto tirada durante uma madrugada cansativa de trabalho...


rsrsrsrs...

Então, vamos lá, Dili, vamos rever os conceitos. Nunca é tarde para mudar de opinião.

quarta-feira, 17 de março de 2010

INVOLUTION- FINAL PART (DOOMSDAY IS SOON COMING)



Sábado bonito. O calor nem incomoda muito. Minha esposa e eu vamos na casa da minha tia buscar um guarda-roupa que compramos (nosso primeiro desde que casamos).
Chegando lá, minha tia comenta que uma pessoa conhecida nossa faleceu há pouco menos de três horas. Na verdade a moça nem era tão próxima, mas ficamos tocados porque sabemos que ela é mãe de nossa vizinha. Ela morava na rua paralela a que moramos. O sábado ficou muito triste para nós.
A noite demos uma saída. Na volta passamos na rua ond a moça morava e percebemos que numa casa vizinha a dela estava acontecendo uma enorme festa regada àqueles terríveis forrós.
“Abdicar da nossa festa só porque alguém morreu?! Nós estamos vivos! E temos o DIREITO de fazer festa na hora que a gente quiser! Ninguém paga nossas contas!”

Coisas desse tipo me fazem pensar que só porque as pessoas raciocinam não significa que TODAS devam de fato serem consideradas seres humanos. Se você acha esse comentário muito radical, peço desculpas, mas o mais leve que pensei em fazer no lugar desse é algo no mesmo estilo das últimas falas do filme Diário dos Mortos de George Romero...





FIM DAS LAMENTAÇÕES...



domingo, 14 de março de 2010

INVOLUTION- PART TWO

Cinco e meia da manhã. Pulo da cama atordoado com o despertador. Rapidamente tomo banho, me arrumo, coloco na bolsa o material necessário para as habituais quatro aulas que leciono todas as manhãs. Beijo minha esposa que ainda dorme. Saio pelas ruas desertas até o ponto de ônibus observando as cores do céu e os desenhos das nuvens, os olhos bem pequenos ainda enxergam os sonhos.
Vários minutos esperando. “Porra de ônibus demorado do caramba...”
Lá vem o Cuca Barra. Lotado. Equilíbrio, destreza. “Desculpe, pisei no seu pé sem querer”.
O rádio toca alto. “Biurefú gueeel!?”. O motorista não imagina que nem todo mundo gosta de forró . Abro minha bolsa, puxo o mp4 e ponho Jimi Hendrix. “Eu não vivo hoje. Que vergonha desperdiçar seu tempo assim...”


Chego ao colégio. Aula de Biologia. Enquanto escrevo coisas no quadro as meninas só falam de Big Brother. Os meninos só falam de futebol. Por mais que alguns segundos persiste em mim a idéia (certamente equivocada) de que suas vidas se resumem a esse papinho vazio.
Onze e meia. Estou de novo dormindo de pé na parada de ônibus. “Porra de ônibus demorado do caramba...”
O Sol assassino incendeia minhas esperanças. No ônibus uma voz imbecil tenta encaixar versos tão vazios quanto a conversa dos alunos numa melodia pobre. “Mão na cabeça que vai começaaaaar...”
Puxo o mp4. Bob Dylan. “ Melhor começar a nadar ou você afundará feito uma pedra...”


Lembro que as mudanças são lentas e tento me concentrar na seguinte verdade: o mundo precisa ser assim. O mundo é perfeito do jeito que está.
Gostaria de acreditar nisso, pois não acredito mesmo sabendo que é verdade.
O mundo é (quase) perfeito do jeito que é. Só queria que as pessoas morressem menos.

quarta-feira, 10 de março de 2010

INVOLUTION-PART ONE



Há poucos dias estava na biblioteca com uma pessoa próxima. Ela é uma garota de dezessete anos, eu a estava ajudando com um trabalho de física numa tarde de domingo. Em um dos livros achei uma célebre foto em que Einstein bem jovem aparecia ao lado de outros grandes cientistas. Eu apontei para a figura do físico e perguntei à garota: “Sabe quem é esse aqui?”. Ela riu e com um olhar confuso respondeu: “Não. Quem é?”. “Olha melhor”, insisti. Não vi efeito. Então revelei: “É o Einstein!”. Ela riu mais forte como se estivesse sendo vítima de uma brincadeira: ”Quem é Einstein?”.
Ela estava rindo, mas era sério.

Bem, isso é loucura, mas de repente me senti muito solitário mesmo. Senti-me velho e ranzinza, sei lá.
A terra está mesmo se abrindo em muitos lugares e isso faz mais sentido pra mim do que viver num mundo onde as pessoas não conhecem Einstein. Acho que esse é o período mais Body Snatchers que vivo. A TV está maluca, cheia do duplipensar orwelliano e as pessoas não se entendem e não querem se entender. Sinceramente eu não acho exagero nenhum pensar assim. Tá tudo muito foda...

sábado, 6 de março de 2010

SICKO-SOS SAÚDE



SICKO, filme do polêmico documentarista americano Michael Moore, é uma crítica contundente e bem elaborada à realidade do serviço de saúde estadunidense. De maneira irreverente e beirando o humor negro, o sarcástico diretor nos conduz por um caminho através do qual podemos observar exemplos dentre as 250 milhões de pessoas que sofrem com as altas taxas dos planos de saúde que vampirizam seus orçamentos sendo essa a única alternativa para aqueles que podem arcar com esses custos pelo mínimo em atenção a saúde.Tratamentos quimioterápicos negados a pacientes com diagnósticos graves de câncer. Cirurgias urgentes descritas como procedimentos “desnecessários” ou experimentais. Contratos negados a pessoas obesas ou magras demais sob a alegação de terem potenciais doenças crônicas de alto custo. É a esse tipo de serviço de saúde que os americanos têm de se submeter. Nos Estados Unidos não existe um sistema unificado e universal de saúde. Praticamente todo o sistema é controlado pelas mega-empresas de seguros de saúde. Por meio de artimanhas políticas e malabarismos jurídicos, ao longo do tempo essas empresas foram angariando poder e influência na sociedade americana, o que constitui um enorme contraste, tendo em vista que o país é uma das maiores potências econômicas do mundo possuindo inúmeros recursos característicos de países desenvolvidos como excelente sistema de correios, escola grátis para todas as crianças, polícia e bombeiros bem treinados. Moore questiona os motivos pelos quais não há um sistema de saúde socializado se tantos outros serviços o são.Ele se baseia nas evidências claras de manipulação dos grandes empresários desse grande e lucrativo mercado nas políticas sociais, prática que não é nova, mas que ainda é forte. Grande parte dos congressistas possui ligações com as seguradoras, o que se traduz em um contínuo esforço do Poder Legislativo em arquitetar estratégias legais que resultam nas facilidades de atuação das empresas e Moore nos mostra que isso tudo acontece de uma maneira não muito sutil.Hillary Clinton desde a década de noventa, quando era então Primeira-dama, foi militante a favor da criação de um sistema de saúde socializado. Hoje, pouco mais de uma década após sua incursão em campanhas e projetos que apoiavam essa causa, é uma das maiores beneficiadas pelos lucros de empresas de planos de saúde tendo abandonado seus ideais.Aliado a isso, as concepções arcaicas que caracterizam a mentalidade dos norte-americanos é alimentada com idéias anti-comunistas remanescente do pós-guerra, resquício anacrônico do macartismo, corrente reacionária anti-socialista que ascendeu com o início da Guerra Fria. A idéia de que uma saúde universal e igualitária é sinônimo de má qualidade é refutada por Moore quando este faz uma peregrinação por vários países como França, Inglaterra e Canadá e mostra que o grau de satisfação de clientes e profissionais revela o exato oposto.Colocar em cheque essas idéias proporcionou ao filme um dos momentos mais hilários e também emocionantes. O diretor reuniu um conjunto de pessoas que atuaram nos resgates às vítimas do 11 de Setembro e que, por exposição ao ambiente hostil da tragédia, hoje sofrem com problemas de saúde e vivem em pobreza e humilhação com doenças pulmonares,distúrbios psíquicos e outros tipos de invalidez sem a ajuda do governo à mercê dos planos de saúde. Levado pelas informações de que na prisão militar de Guantânamo os terroristas responsáveis pelos atentados recebem tratamento médico gratuito e de qualidade, Moore embarcou numa viagem clandestina à Cuba. Sendo mal recebidos pelas autoridades responsáveis pelo território americano em Guantânamo, decidiram passar por Havana e atestar que um país violentado pelo severo embargo econômico imposto pelos EUA, apesar de socialista e retrógrado, é capaz de prover o povo de um serviço médico moderno, bem estruturado, universal, gratuito e baseado em atenção primária.Fazendo uma análise e uma comparação da situação da saúde nos EUA com a nossa, podemos colocar algumas observações úteis às reflexões quanto ao que se deva pensar de um sistema de saúde eficiente. Conhecendo a forma como o governo americano encara a participação do Estado no contexto das necessidades de saúde do povo, pode-se considerar que nosso SUS deva ser concebido como um sistema teoricamente ideal, ou no mínimo de qualidade e princípios norteadores superiores aos daquela nação. Na prática, considerando o fato de que há em nosso país na verdade um regime híbrido entre o privatista e o estatal, percebe-se facilmente que a influência do primeiro marca importante presença no que diz respeito às facilidades que um sistema unificado oferece. Haja visto o sucateamento das unidades e o pouco e deficiente repasse das verbas estipuladas do Governo Federal aos municípios devido à burocracia, maus planejamentos e aos desvios. Tudo isso favorece, aqui no Brasil, o crescimento de grupos semelhantes àqueles que detêm o “mercado da saúde” em solo americano provocando uma situação que não difere muito da que passam as pessoas daquele país: quem tem dinheiro tem direito à saúde, quem não tem espera por milagres.É certo que o SUS nos trouxe inúmeros avanços sociais desde sua criação, bem percebidos quando se avalia comparativamente os indicadores de saúde de hoje com os de épocas em que o sistema não existia. Porém, SICKO pode nos levar ainda a uma outra reflexão: como um país em crescimento e com tantas riquezas como o Brasil não é capaz de fazer um sistema de saúde tecnicamente bem elaborado a desenvolver todo seu potencial?